Que o nosso cérebro é uma incrível e misteriosa máquina todo mundo já sabe. Então, não é – ou não deveria ser – nenhuma surpresa se dissermos que nossas decisões raramente são conscientes ou pautadas pelo nosso tão estimado raciocínio lógico. Certo?
Não? Ainda atribui a sua racionalidade o poder de cada escolha, reação ou atitude que toma ao longo dos dias?
Não tem problema, estamos aqui para provocar. Para gerar algumas reflexões e mostrar que, ao abrirmos a nossa mente para a compreensão de algumas verdades, teremos maior capacidade de racionalizar sobre e, aí sim, tomar decisões mais conscientes.
Veja só.
Com o avanço das ciências cognitivas tornou-se possível entender como nossos mecanismos cerebrais nos fazem tomar decisões de forma automática e, principalmente, entender como os vieses inconscientes influenciam as nossas percepções, ações e os nossos julgamentos ao longo de nossa vida.
Isso porque, segundo Leonard Mlodinow, somos comandados por dois cérebros: o consciente, que responde por 5% da capacidade cognitiva, e o inconsciente, que dá conta dos outros 95%. Ele ainda afirma o que os filósofos e psicólogos existencialistas já acreditavam há séculos, que todos (isso mesmo, todos) os nossos julgamentos são afetados pelos nossos sentimentos.
Finalmente estamos chegando a um ponto onde o óbvio ficou difícil de ser negado. Uma vez que a absorção do mundo passa, obrigatoriamente, pelos nossos sentidos e que nossa percepção, ao ser ativada por eles, já ativa inúmeras sensações e, consequentemente, emoções, fica difícil acreditar que as mesmas não estarão impregnadas em nossa vivência, lembranças e, consequentemente, em nosso aprendizado.
E é exatamente nesse processo carregado de sensorialidade e emoção que vamos apreendendo o mundo, interagindo e aprendendo com ele. Portanto, compreender esse processo, ou seja, a forma como absorvemos os signos culturais, o jeito de se relacionar, o que é considerado valor, poder e beleza por nossa sociedade é fundamental para entendermos como nossas “certezas”, ao invés de lógicas e racionais, na verdade são – inevitavelmente – carregadas de memórias sensoriais e sentimentos.
Ser gentil é fortaleza ou expressão de fraqueza? Levar vantagem é esperteza ou defeito? Ser ético é ser honrado ou ser idiota? Ter dinheiro é bom para ter conforto ou para ter poder sobre alguém?
Cada uma dessas respostas foi construída em nós a partir de tudo que vivenciamos desde o nosso nascimento, seja no meio familiar, educacional, cultural, seja pelo que assistimos, ouvimos ou vemos. Absolutamente tudo é assimilado, conectado com outros aprendizados e acomodado para gerar um grande acervo que compõe a nossa visão de mundo e, consequentemente, nossa forma de atuar no mundo.
E, uma vez que fazemos uma leitura do mundo (seja ao adquirirmos uma resposta, tomarmos algo como verdade ou entendermos alguma coisa), dificilmente retornaremos a ela para questioná-la. A ideia já está fechada, tida como verdade. Da mesma forma que, uma vez que aprendemos a escovar os dentes ou a fazer uma maquiagem, dificilmente nos questionaremos se é a forma correta, assim como raramente mudaremos nosso jeito de passar a manteiga no pão ou o caminho que fazemos até trabalho.
E… Voilà!
Você tem aí a fórmula para a criação dos vieses inconscientes!
Eles nascem a partir dessas associações que acabam por compor nossas verdades, pré-conceitos e crenças. E, uma vez definidos, nos levam a julgamentos automáticos sobre situações, coisas e, principalmente, pessoas que sequer conhecemos, apenas baseados em sua aparência, fala ou comportamento. E acredite, tudo isso leva menos de um segundo!
A velocidade de processamento e resposta do nosso cérebro é tão grande que sequer percebemos que estamos agindo, falando ou mesmo tomando uma decisão pautada em respostas previamente estruturadas. Tamanha eficiência é atribuída a capacidade do nosso corpo em economizar energia, ou você achava mesmo que eram só em suas gordurinhas?
Respostas “prontas” são excelentes artifícios para dar agilidade a nossa ação no mundo gastando o mínimo de energia possível. Para respirar, andar, chupar cana e pular corda ao mesmo tempo isso é ótimo, porém, para lidar com pessoas – acredite – isso é péssimo!
Na segunda parte desse artigo veremos juntos como essa incrível capacidade pode prejudicar pessoas e – por sorte – como podemos utilizar a incrível plasticidade cerebral que temos para ampliar nossa compreensão acerca da existência e dos efeitos dos vieses inconscientes para, assim, sermos muito mais justos e humanos em nossa liderança e gestão de pessoas.