Temos observado nas últimas décadas e, em especial nos últimos dez anos, grandes transformações no mundo do trabalho. Novas tecnologias de comunicação e a expansão do acesso à Internet permitem-nos hoje desempenhar nossas funções fora do local de trabalho a praticamente qualquer hora do dia ou da noite. Fato esse vivenciado amplamente durante esse período de Pandemia da Covid-19.
O aumento da competição em todo o mundo levou a uma pressão crescente por eficiência de custos e maior produtividade, forçando os trabalhadores a atualizarem suas competências profissionais tornando-se aptos a incorporarem novas atividades e novas dinâmicas de trabalho, tais como Equipes Ágeis, entre outras. Muitos ainda se viram obrigados a mudarem de organização ou até mesmo de setor para se adaptarem.
A mudança dos ambientes de trabalho, sem dúvida, traz oportunidades de desenvolvimento profissional, ampliação de redes e inovação. Os benefícios dessas mudanças só podem ser aproveitados quando a organização e seus trabalhadores mantém-se “vivos”, adaptando-se e incorporando tais transformações ao seu cotidiano, seja naquilo que produzem ou na forma de se relacionarem interna e externamente. Quando isso não é possível, ou seja, quando as transformações encontram um ambiente de trabalho rígido e inadaptável, que não leva em consideração o bem-estar das pessoas, este pode ser então considerado um ambiente gerador de problemas de Saúde Mental.
Estima-se que a perda de produtividade resultantes da depressão e da ansiedade, dois dos transtornos mentais mais comuns no ambiente de trabalho, custe à economia global US$ 1 trilhão por ano.
A depressão e a ansiedade podem ser classificadas como sofrimentos patológicos, das quais decorrem uma sensação de impotência, de que não é possível dar conta dos desafios impostos pelo cotidiano do trabalho. No entanto, há um outro tipo de sofrimento que pode servir como um motor de desenvolvimento, o chamado sofrimento criativo. Este é causado por algum tipo de desafio que nos coloca em movimento, que exige que utilizemos nosso potencial criativo para resolvermos os desafios do cotidiano e que causa uma sensação de bem-estar quando chegamos a um resultado satisfatório. Em geral, se podemos vivenciar e lidar de forma saudável com o sofrimento criativo é porque gozamos de boa Saúde Mental.
Há muitas definições sobre Saúde Mental, mas de forma geral, todas convergem em descrever Saúde Mental como a forma pela qual uma pessoa reage às exigências da vida e ao modo como harmoniza seus desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções. Todos nós vivenciamos diariamente uma série de emoções como alegria, amor, satisfação, tristeza, raiva e frustração. Sermos capazes de enfrentar os desafios e as mudanças da vida cotidiana com equilíbrio e saber procurar ajuda quando temos dificuldades em lidar com conflitos, perturbações, traumas ou transições importantes nos diferentes ciclos da vida, é um sinal importante de Saúde Mental.
E por falar em pedir ajuda, uma problemática comum no ambiente de trabalho é que este ainda se mostra mais competitivo do que colaborativo. E sendo assim, poucos têm coragem de falar sobre suas dificuldades, sofrimentos e angústias. Falar sobre essas questões pode depor contra o indivíduo, pois pode ser entendido como um sinal de fraqueza, de fragilidade, o que não é desejável em um ambiente onde o perfil de super-homem ou supermulher são tão valorizados. Já vemos algumas iniciativas que visam mudar esse cenário e que incentivam o diálogo sobre as vulnerabilidades no ambiente de trabalho.
Outro ponto importante é que, diferentemente da saúde física, onde é possível a cada um se responsabilizar pelo seu estado, seja realizando atividades físicas, tendo uma alimentação saudável ou cuidando do seu sono, a Saúde Mental é uma construção psicossocial e acontece a partir de uma relação. Ou seja, não depende exclusivamente de um indivíduo, mas da influências de todos que compartilham um mesmo espaço de trabalho.
Sendo assim, é possível afirmar que as relações no ambiente de trabalho podem ser responsáveis, ao mesmo tempo, por provocar o adoecimento dos indivíduos ou por criar condições para um desenvolvimento saudável. O trabalho em equipe cria uma rede de proteção extremamente importante para a Saúde Mental do trabalhador. Por isso, o investimento na construção de um ambiente seguro e de equipes com vínculos saudáveis e que estejam disponíveis para a ajuda mútua é tão importante.
O contrário também é verdadeiro. Quanto mais isolada, seja pelo seu tipo de trabalho ou pela exclusão do seu grupo de trabalho, mais a pessoa se fragiliza, estando mais propensa ao sofrimento e ao adoecimento.
E qual a importância do Líder neste cenário?
Por ser uma figura de muita influencia e que possui uma visão mais ampla da organização e do seu time, e ser o principal gerador de cultura, o líder é um personagem-chave no cuidado da Saúde Mental. O líder é o grande responsável por validar a forma como as coisas são feitas em um determinado ambiente e isso pode significar a reprodução de práticas que promovam o bem-estar e, consequentemente a Saúde Mental, ou que promovam o sofrimento e possível adoecimento, como a exclusão, assédio ou o preconceito, por exemplo.
Temos que nos atentar que um time nunca adoece sozinho. Um time doente pode indicar um líder que também precisa de ajuda. Por isso, é importante que questões de Saúde Mental estejam constantemente na agenda das organizações para que possam ser observadas, identificadas e devidamente tratadas.
Dentre as várias contribuições de um líder para a Saúde Mental da sua organização e, especialmente, do seu time, reuní as 5 contribuições que entendo serem as mais importantes para a construção de um ambiente de trabalho saudável, são elas:
Atualização do ambiente do trabalho e estilo de gestão frente às transformações sociais: As transformações sociais antecedem as transformações das organizações. Estar atento a elas e incorporar as que forem necessárias para se evitar grandes incoerências ou mesmo conflitos, tanto na organização quanto no seu time, tem uma grande importância na preservação da Saúde Mental.
Criar e conectar propósitos: Uma das grandes causas de sofrimento no trabalho é a perda do sentido daquilo que se faz. Uma organização com propósitos claros contribui para que seus líderes possam ajudar as pessoas a se identificarem e se conectarem a eles. Trabalhar por um propósito maior e se sentir realizado no que faz é altamente motivador e permite as pessoas darem o seu melhor, se desenvolverem e criarem um ambiente positivo em torno de si.
Reconhecimento do trabalho: Em se tratando de trabalho, podemos dizer que uma pessoa se reconhece naquilo que produz. Ignorar o trabalho de alguém é o mesmo que ignorar a pessoa, tornando-a invisível em seu próprio ambiente de trabalho, o que pode causar grande sofrimento. Ainda que um trabalho realizado precise de ajustes, é importante sinalizar as melhorias necessárias, mas não deixar de reconhecer sua existência e valor para a organização e para a sociedade.
Atuar na criação de uma rede de suporte: O trabalho em equipe cria uma percepção de suporte, fortalecendo e encorajando as pessoas a enfrentarem seus desafios diários. Saber que há com quem trocar experiências, compartilhar dificuldades, pedir e receber ajuda é muito importante pra a manutenção da Saúde Mental. Esta rede não deve se limitar ao próprio time, mas deve ser expandida de acordo com as necessidades por toda a organização ou determinados segmentos da sociedade. Cabe ao líder investir e incentivar a criação de um time-base e/ou expandido que suporte seus membros em suas necessidades intelectuais e emocionais.
Abrir espaço para conversas individuais: Além de uma rede de suporte, é igualmente importante, o indivíduo ter um espaço seguro para compartilhar seus sentimentos, preocupações e angústias. Ao líder cabe a responsabilidade de acolher o indivíduo em suas necessidades, orientar e identificar os meios pelos quais seu time e/ou a organização podem lhe ajudar.
Resumido, as transformações no mundo do trabalho são bastante positivas e podem gerar muitas oportunidades de desenvolvimento e inovação. A sensibilidade e a proatividade dos líderes no cuidado com a Saúde Mental das organizações, através dos seus times, garante um ambiente saudável, fundamental para que essas mudanças possam ser aproveitadas ao máximo!
E você líder, o que tem feito para cuidar da Saúde Mental da sua organização ou do seu time? Compartilhe conosco.
Um grande abraço,
Denilson