Vamos falar de medo?

Bárbara Crespo

8 de julho de 2021

Blog do Grupo Bridge

Desenvolvimento humano, transformação cultural e inovação.
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Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá
Lenine

Há três semanas, por conta de um novo trabalho com um grupo de líderes, meu diretor me inspirou a pesquisar sobre o tema medo. Em um alinhamento nosso, compartilhamos visões e experiências baseadas em outros trabalhos realizados, além, claro, das experiências pessoais que temos vivenciado nesse contexto de pandemia.

E chegamos a uma certeza que está cada vez mais transparente em meio a tantas incertezas e pontos cegos que nos rodeiam: uma de nossas emoções primárias e inerentes – que são despertadas de acordo com a nossa percepção frente às situações da vida – tem se demonstrado muito mais presente que as demais.

Ela mesma, respeitável público: a emoção MEDO!

Toda essa pesquisa e troca de olhares me levou a algumas reflexões. Claro que o tema é amplo e faz-se necessário um maior aprofundamento sobre ele, mas, como minhas descobertas foram bem interessantes, fiquei motivada a compartilhá-las com vocês.

Sempre é delicado tratar de nossas vulnerabilidades, porque fomos ensinados a ignorá-las ou escondê-las, então você deve estar se perguntando: “Por que falar de medo em um momento que precisamos de esperança?”. Justamente por isso! Precisamos nos expor para podermos encarar nossos medos e aprendermos a cuidar deles.

Quando comecei a esboçar essas palavras, a primeira lembrança que me veio à cabeça foi aquela música do Lenine chamada Medo, que em uma das partes da letra diz “o medo que dá medo do medo que dá” e aí pensei:
É exatamente isso. Dá medo sentir medo!

E dá medo falar do medo. E, exatamente por esses motivos, vale à pena desvendá-lo.

Então, para iniciar nossa conversa, é importante entender o que é o medo. Durante a minha pesquisa – que não se limitou apenas a essas duas últimas semanas, mas engloba os conhecimentos adquiridos em minha formação e atuação como profissional de Psicologia – me deparei com inúmeros conceitos e perspectivas sobre essa emoção tão primitiva e que não é exclusividade dos humanos.

Poderia fazer um artigo só sobre os diferentes tipos de significados do medo e, só com eles, já dariam páginas e páginas. Mas, preferi seguir a máxima: “vamos pelo simples”, ainda que não exista tanta simplicidade no medo.

Do ponto de vista das teorias das emoções, o medo é considerado como uma emoção básica fundamental, universal e necessária à vida, com a qual animais e seres humanos foram naturalmente dotados para responder e reagir aos perigos em termos de sobrevivência e conservação da espécie. Ele controla o sistema de defesa natural, que inclui sinais elétricos para movimentos e reações instintivas – de fuga ou ataque frente à percepção de perigo – ou liberação de uma série de outras alterações fisiológicas.

Zygmund Bauman, em seu livro “Medo Líquido”, descreve que o medo pode ser um rastro de uma experiência ancestral de enfrentamento da ameaça direta – um resquício que sobrevive ao encontro e se torna um fator importante na modelagem da conduta humana, mesmo que não haja mais uma ameaça direta à vida ou à integridade.

Pensando sobre esse conceito, o medo também pode ser gerado de forma subjetiva, pelo sistema de crenças e aprendizados, criando uma espécie de mecanismo de defesa/proteção. Esse mecanismo, em algumas situações, pode nos levar a evitar entrar em contato com situações que estimulem ou gerem o medo, criando uma imunidade, por exemplo, às novas situações ou situações já conhecidas que ainda provoquem insegurança.

Alguns medos podem ser bem reais e objetivos. Estimulados pelo risco frente às nossas necessidades básicas de sobrevivência, acometendo a saúde de nosso corpo, ou mesmo bem-estar emocional. Outros podem decorrer da ameaça à segurança do sustento (renda, emprego). Ou ainda podem vir dos perigos que ameaçam o lugar do indivíduo no mundo – a posição na hierarquia social e a identidade (de classe, de gênero, etnia ou religiosa). E, mesmo que o medo tenha sido estimulado em apenas uma pessoa, quando não tratado pode desencadear uma insegurança coletiva.

Percebe essa cena acontecendo em seu dia a dia? Já encarou seus medos? Quais são eles? Por que acontecem? Têm causas objetivas ou subjetivas? Quais deles de fato te protegem? E quais deles funcionam como uma imunidade à mudança?

Agora, se você assume uma posição de liderança, tem uma oportunidade a mais nessa jornada! Já pensou em criar um momento para compartilhar as emoções com seu time, inclusive falando sobre os medos e inseguranças?

Analisando o ambiente organizacional, percebemos que existem vários fatores que são verdadeiros gatilhos para o medo. Esses fatores podem estar presentes na cultura, se esta trabalha com base no comando/controle e punição, não dando espaço para a experimentação e a possibilidade de erro, por exemplo. Podem aparecer nas relações de poder e hierarquia dos papéis desempenhados. Ou, como vivenciamos no contexto atual, estarem presentes nos processos de transformação ou evolução dentro da organização para que esta possa se adequar às exigências do mercado e clientes, que de inúmeras formas exigem a evidência de movimento e flexibilidade das pessoas.

De fato, para se entender os “Por quês”, precisamos nos abrir para o exercício de falar sobre o medo, gerando um ambiente coletivo que seja acolhedor para um compartilhar de dificuldades frente às incertezas, através do diálogo.

E para cuidar do “TU”, precisamos primeiro cuidar do “EU”. Enquanto não acolho meus medos em um processo de autoconhecimento, imergindo nessa parte considerada “sombra” do meu emocional, não consigo avançar. Nem para mim, quanto mais para o outro. Os medos influenciam nossos pensamentos e ações, logo, precisamos identificar quais são os nossos medos, entendendo-os e cuidando deles para, então, estarmos disponíveis para o outro.

É claro que esse processo não é nada fácil! Dificilmente alguém descobrirá as origens de todos os seus medos e conseguirá superá-los. Até porque, sabemos que alguns têm, de fato, um propósito de existir para o nosso bem e nossa sobrevivência. E aqui insisto em desmistificar a visão do rótulo “emoção negativa” ou “emoção positiva”, quando na verdade, em sim, o medo é apenas uma emoção. Mas, temos também medos que nos paralisam, quando precisamos seguir em frente. Então, de fato, o que é “negativa” não é a emoção e sim a forma como se lida com ela!

Vale muito à pena tentarmos desnudar alguns de nossos medos para aprendermos a lidar com eles de forma diferente, e, quem sabe, reduzi-los para nossa evolução.

Evidente que para isso precisaremos de coragem para pedir ajuda, pode ser a ajuda de um par, líder, amigo ou mesmo um profissional qualificado para trilhar esse caminho desafiador, como um psicólogo, por exemplo. E lembrando que coragem não é ausência de medos, mas sim, conseguir ir além, ainda que eles existam.

“O medo transporta sempre uma mensagem preciosa e, a quem estiver disposto a lhe dar ouvidos em vez de fugir dele, pode ajudar a alcançar rapidamente a cura do corpo, da mente e da alma.”
Susan Rankin

E você? Já encarou seus medos hoje?

ESCRITO POR

Bárbara Crespo

Psicóloga e Consultora especializada em desenvolvimento de líderes e times. Ama uma mesa farta para compartilhar com a família e os amigos, é apaixonada por música e filmes, tem o mar como um refúgio e procura se desenvolver de forma holística enquanto ser integral.

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