Vamos falar sobre a pressão para vencer?

Bárbara Crespo

9 de agosto de 2021

Blog do Grupo Bridge

Desenvolvimento humano, transformação cultural e inovação.
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O assunto que vem sido debatido fortemente nesse momento das Olimpíadas é algo que temos discutido com mais ênfase desde o início da pandemia: o cuidado com a saúde emocional.

A discussão foi evidenciada devido à desistência da ginasta norte-americana Simone Biles, de 24 anos, na maioria das provas onde competia e era favorita em Tóquio. Ela levantou o debate sobre a alta pressão que os atletas sofrem nos aspectos emocionais e sobre o quanto essa dimensão do ser humano pode impactar as outras (física, conhecimento, social e espiritual). Ao acompanharmos os relatos de Simone e outros atletas que já passaram ou estão passando por situações semelhantes, temos uma boa oportunidade para praticar a empatia, tentando imaginar o que eles devem sentir no contexto onde vivenciam seus papéis como profissionais.

Rotinas exaustivas de treinos para preparar e desenvolver o físico, direcionadas conforme a modalidade em que o atleta compete, garantem o movimento necessário do corpo. Nutrição através de dietas adequadas e sono regrado também fazem parte do processo. Aqui também podem entrar o cuidado com a respiração correta para a oxigenação do corpo. Dores, lesões e procedimentos fisioterápicos e médicos (e até mesmo cirúrgicos) podem fazer parte do dia a dia dos atletas. Há toda uma ciência especializada hoje voltada à dimensão Física, para garantir a melhor performance da “máquina” corpo humano. E sabemos o quanto o emocional pode ficar abalado quando não estamos fisicamente sãos!

Os atletas sabem que precisam de disciplina para dominar todos os conhecimentos necessários no esporte que praticam. Os equipamentos utilizados, os processos a serem executados e as técnicas que precisam ser realizadas com maestria (ao menos é o objetivo). Passam horas estudando vídeos de outros atletas de sua modalidade que consideram modelos e referências para tentar aprender como fazer ou capturar estratégias para se destacar. Procuram seguir um processo igual ou similar (com algumas adaptações) conforme os ensinamentos do técnico/coach que escolheram para direcioná-los nas rotinas exaustivas do dia a dia, trazendo toda a experiência necessária. Tudo isso pode gerar um impacto no emocional desses atletas, que são sempre exigidos a não parar na busca pelo aprimoramento técnico constante. Esses processos falam sobre a dimensão do Conhecimento.

Frente às escolhas que fizeram e com toda a disciplina e dedicação de seu tempo, por muitas vezes ficam com o social restrito, deixando de participar de eventos em família ou com os amigos. Perdem momentos importantes das vidas de seus entes queridos, ficando até mesmo divididos em muitos deles. Mas, se querem ter êxito, precisam definir suas prioridades, e aqui o tempo é de fato uma variável determinante (o que pode ser ainda potencializado pelo fator local de treino X moradia). Você sempre escuta em seus discursos o quanto precisam “sacrificar” suas relações e outros papéis da vida em detrimento ao papel profissional. E, certamente sabemos o quanto nossas relações impactam nosso emocional, trazendo uma base importante de suporte nos desafios da vida. É aí que vemos o impacto na dimensão Social desses atletas.

E quanto à dimensão conhecida como Espiritual ou transcendental? Quando escolhem um esporte a se dedicar, certamente podem haver vários motivos: os pais ou mentores influenciaram na escolha, uma habilidade extra com diferencial na prática do esporte, ou mesmo um prazer e sensação de plenitude quando experencia-se aquela modalidade. Seja qual for o motivo, ele não se sustenta se o atleta não sentir algo como: “é isso que faz meu coração vibrar mais forte” e “estou no meu lugar”! Aquela sensação de se estar cumprindo a sua missão, sabe? De se fazer algo e compreender que aquilo é o motivo da sua existência. E como nos sentimos plenos com nosso propósito, nosso emocional também se equilibra. Não quer dizer que não teremos desafios, mas certamente, saberemos que eles valem à pena serem vividos e superados.

A dimensão Emocional fala justamente sobre como cuidamos das nossas emoções, identificando-as e buscando desenvolver nossa inteligência emocional. Ela impacta diretamente todas as outras dimensões, ao mesmo tempo que é impactada por elas. Imagine o quanto é necessário que os atletas cuidem diretamente de seu equilíbrio emocional (ou ao menos da busca por ele) enquanto enfrentam todos os desafios diários de suas profissões. Seja em um exercício de autodesenvolvimento, onde precisam ter uma capacidade de autoconhecimento e percepção de cenário (para identificar como esse cenário o influencia), seja na busca de profissionais que possam dar o suporte necessário – como Psicólogos do Esporte, por exemplo.

Na verdade, toda a narrativa até aqui é hipotética, desenvolvida através da observação, visto que não vivencio essa realidade esportiva, mas certamente imagino muitas questões frente ao que acompanhamos no mundo. Ainda que esteja falando sobre a realidade de um esportista, muitas das coisas aqui identificadas, guardadas as devidas proporções e adaptados os contextos, podem também ser observados na perspectiva de outras profissões que exigem um alto nível de performance e o alcance de resultados.

Independente de você ser esse tipo de profissional ou não, há sempre uma exigência em entregas e resultados no seu papel profissional. Cobranças diárias em que essas dimensões são levadas à prova e que exigem um alto preparo emocional de sua parte. E você pode revisitar a narrativa, tentando imaginar como seria sua perspectiva em cada uma das dimensões aqui exemplificadas.

Percebo, o tempo todo, uma temática muito presente nos grupos ou mentorias individuais que realizo e, principalmente, nos atendimentos psicológicos: há um alto grau de exigência emocional frente às pressões por alta performance. Podemos aprender com os atletas, como no caso da Simone, que é fundamental levantar a mão e assumir uma postura decisiva em sinalizar que há um desafio que não estamos dando conta (ainda que você não tenha uma alternativa entre escolher competir ou não).

É preciso entender qual é nossa vulnerabilidade para poder cuidar dela da melhor maneira possível, e, provavelmente, pedir ajuda para isso. E tudo bem se isso acontecer, afinal, somos humanos!

Você pode tentar imaginar como está cada dimensão do seu desenvolvimento integral para identificar quais são os pontos que precisa priorizar e que te auxiliarão, inclusive, na dimensão emocional. Imagine por exemplo, que você está em um momento de novos desafios no papel profissional e precisa investir maior dedicação na dimensão Conhecimento, buscando aprender novas técnicas, trazendo referências de profissionais que considera modelo para seguir, ampliando sua visão de processos e ferramentas, etc. Enfim, certamente precisará traçar um plano e até mesmo solicitar apoio para identificar como proceder para ter mais assertividade. Quando temos direção e suporte, enxergamos caminhos a seguir, o que nos traz mais segurança, reduzindo assim possíveis resistências à mudança e medos. Assim, nossa ansiedade também é cuidada, e conseguimos inclusive ter mais prazer para o engajamento.

Pense nisso! E, caso sinta a necessidade de um suporte mias direcionado, conte com nosso time.

ESCRITO POR

Bárbara Crespo

Psicóloga e Consultora especializada em desenvolvimento de líderes e times. Ama uma mesa farta para compartilhar com a família e os amigos, é apaixonada por música e filmes, tem o mar como um refúgio e procura se desenvolver de forma holística enquanto ser integral.

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